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sábado, 23 de junho de 2012

Da violência conjugal

A violência conjugal, que engloba qualquer acto, conduta ou omissão que sirva para infligir, reiteradamente e com intensidade, sofrimentos físicos, sexuais, mentais ou económicos, de modo directo ou indirecto (por meio de ameaças, enganos, coacção ou qualquer outro meio), pode ser exercida, tanto sobre cônjuges ou companheiros maritais, como sobre ex-cônjuges ou ex-companheiros maritais. A violência no namoro é um caso particular da violência conjugal.

Esta problemática deverá ser perspectivada sistemicamente, uma vez que a violência conjugal não surge mediante uma relação de causa-efeito, mas a partir da confluência de plúrimos factores de risco, de onde se ressaltam doze: (1) presença de violência na família de origem; (2) transversalidade a todos os níveis socio-económicos, quer na vítima, quer no agressor; (3) consumo habitual e excessivo de álcool; (4) défices comportamentais; (5) psicopatologia; (6) violência contra as crianças; (7) normas patriarcais; (8) desigualdades de género; (9) poder diferencial na relação; (10) aprovação normativa da violência; (11) legitimação de certas formas de interacção; (12) agressão generalizada.

De acordo com diversos estudos, observa-se que a instalação da violência na relação apresenta um padrão trifásico que compreende a fase de emergência da tensão, a fase do incidente crítico da agressão e a fase da reconciliação ou de trégua, também designada por fase de lua-de-mel.

Nesta sequência, verifica-se a existência de múltiplas razões que levam a vítima a permanecer nesta situação, designadamente, amor, medo, orgulho, vergonha, embaraço, lealdade, dependência financeira, baixa auto-estima, ou a combinação de todas ou algumas destas razões.

A literatura descreve ainda um conjunto de indicadores frequentemente presentes nas vítimas de maus-tratos conjugais, nomeadamente, comportamentos depressivos ou de grande evitamento (por exemplo, vergonha, isolamento, culpabilização, desânimo aprendido e baixa auto-estima), distúrbios cognitivos e mnésicos (por exemplo, confusão mental, imagens intrusivas, memórias recorrentes do trauma, dificuldades de concentração, crenças incapacitantes sobre si e os outros, comprometendo competências como a tomada de decisão), distúrbios de ansiedade (por exemplo, hipervigilância, medo, percepção de ausência de controlo, fobias, ataques de pânico, taquicardia e activação fisiológica), bem como outras alterações, por exemplo, ao nível da sexualidade, ao nível da imagem corporal, assim como dependência de substâncias e desordens do sono e do apetite.

Importa que se realizem mais estudos sobre esta temática, não só relativamente a vítimas do sexo feminino, mas também incidindo sobre as vítimas do sexo masculino, uma vez que estas também existem (infelizmente, devido a preconceitos com origem no tipo de sociedade vigente, sentimentos de vergonha impedem estas vítimas de formularem queixas junto dos órgãos e instituições competentes).

Revela-se ainda imperativa a sensibilização da classe política por forma a promover a criação de mais e melhores dispositivos de prevenção (primária, secundária e terciária) da violência conjugal, nomeadamente, a implementação de programas de intervenção de modo a dirimir esta problemática.









Hoje recebi flores

 
“- Não é o meu aniversário ou nenhum outro dia especial; tivemos a nossa primeira discussão ontem à noite e ele disse muitas coisas cruéis que me ofenderam de verdade. Mas sei que está arrependido e não as disse a sério, porque ele me enviou flores hoje.
 
- Não é o nosso aniversário ou nenhum outro dia especial. Ontem ele atirou-me contra a parede e começou a asfixiar-me. Parecia um pesadelo, mas dos pesadelos acordamos e sabemos que não é real. Hoje acordei cheia de dores e com golpes em todos lados. Mas eu sei que está arrependido porque ele me enviou flores hoje. E não é dia de São Valentim ou nenhum outro dia especial.
 
- Ontem à noite bateu-me! E ameaçou matar-me. Nem a maquilhagem ou as mangas compridas poderiam ocultar os cortes e golpes que me ocasionou desta vez. Não pude ir ao emprego hoje porque não queria que se apercebessem. Mas eu sei que está arrependido porque ele me enviou flores hoje. E não era dia da mãe ou nenhum outro dia especial.
 
- Ontem à noite ele voltou a bater-me, mas desta vez foi muito pior. Se conseguir deixá-lo, o que vou eu fazer? Como poderia eu sozinha manter os meus filhos? O que acontecerá se faltar o dinheiro? Tenho tanto medo dele! Mas dependo tanto dele que tenho medo de o deixar. Mas eu sei que está arrependido, porque ele me enviou flores hoje.
 
- Hoje é um dia muito especial: É o dia do meu funeral. Ontem finalmente conseguiu matar-me. Bateu-me até eu morrer. Se ao menos eu tivesse tido a coragem e a força para o deixar... Se tivesse pedido ajuda profissional... Hoje não teria recebido flores!”
(Encontrado na internet)





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