Google+

quinta-feira, 14 de junho de 2012

NOTÍCIAS: «Crise agrava problemas de saúde mental e dependências»


Não é fácil lidar com a crise, qualquer tipo de crise que seja.

E o atual panorama económico-financeiro tem vindo a promover a doença: o desenvolvimento de patologias do foro mental (como sejam a depressão e a ansiedade), ou o agravamento de doenças já instaladas, devido à incerteza do futuro e à perda de poder de compra (não saber se vai ser possível pagar a próxima prestação da casa, a água e a luz, ou como se irá pagar a medicação, quando o dinheiro faz falta para pôr comida na mesa).


«Crise agrava problemas de saúde mental e dependências»



«O Observatório Português dos Sistemas de Saúde considera, no Relatório de Primavera 2012, que a crise agrava os problemas de saúde mental e de dependências, bem como a prevalência de doenças infeciosas.

No Relatório de Primavera 2012, intitulado "Crise & Saúde - Um país em sofrimento", o Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) sublinha que os efeitos da crise socioeconómica na saúde mental "são bem conhecidos", sublinhando que as principais manifestações passam pela perda de autoestima, depressão, ansiedade e risco de comportamentos suicidas.

"No desencadear destas manifestações o desemprego e endividamento têm um papel particularmente importante", referem os autores do relatório, realçando que o risco de doença mental "aumenta com o crescente endividamento das pessoas".

Para provar este efeito o OPSS dá como exemplo a Grécia, no período entre 2007 e 2009, quando os suicídios aumentaram 17 por cento(%).

"Estima-se que tenham aumentado 25% em 2010 em relação a 2009, mais 40% na primeira metade do 2011, em relação a igual período do ano anterior. Supõe-se também que a principal causa para esta evolução tenha a ver com a dificuldade em suportar altos níveis de endividamento pessoal e familiar", explica.

Referindo-se a Portugal, o observatório cita os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) de 2010, segundo os quais os valores do suicídio (1.101) foram mais elevados do que os acidentes com transportes (1.015).

Citando o coordenador do primeiro estudo nacional sobre saúde mental (de 2010), o psiquiatra Caldas de Almeida, o OPSS recorda que a prevalência anual em Portugal das perturbações psiquiátricas era na altura de 22,9%, sendo que as perturbações de ansiedade e as perturbações depressivas representavam 16,5% e 7,9%, respetivamente.

O mesmo estudo indicava que Portugal era o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população e aproximava-se perigosamente do campeão mundial, os Estados Unidos.

O OPSS analisou igualmente o mercado de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos de ambulatório, comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) entre 2002 e 2011, reportando um aumento de 15,3% no consumo de ansiolíticos.

No que respeita ao mercado de antidepressivos, considerando o mesmo período em análise, este apresenta sempre uma evolução positiva e crescente em consumos. O valor máximo foi registado em 2011, indica o observatório.

Para contrariar esta tendência, o OPSS aponta a necessidade de mais proteção social, de políticas ativas de emprego, de mais suporte familiar, de respostas ao endividamento e de políticas relativas ao alcoolismo, uma das dependências que cresce com a crise.

"Portugal apresenta o segundo valor mais elevado nas estatísticas da OCDE relativas ao consumo de bebidas alcoólicas na população com 15 e mais anos. A taxa de mortalidade associada a doenças relacionadas com o álcool não melhorou ao longo da última década", alerta.

No que diz respeito ao número de novas infeções por VIH em consumidores de drogas injetáveis, os valores relativos a Portugal e à Irlanda destacam-se comparativamente aos restantes países da Europa Ocidental, indica o relatório.

Os autores do relatório referem ainda que "existe evidência sobre a relação entre o sofrimento mental, sobretudo em situação de crise económica prolongada, e as suas repercussões físicas", influenciando o sistema cardiovascular e imunológico.

"Podem verificar-se acréscimos de risco de hipertensão arterial, enfarte do miocárdio e acidente cerebrovascular, diabetes e infeções. Este efeito é ainda mais demarcado nas classes sociais menos favorecidas", acrescentam.

O OPSS alerta, contudo, para a falta de um sistema de monitorização dos efeitos da crise na saúde em Portugal, o que faz com que não seja possível "acompanhar com dados objetivos os reais efeitos da crise na saúde dos portugueses".»

Sem comentários:

Enviar um comentário